Sen.ti.dos
Sinto o vento embalar meus fios de cabelo e ouço os sons do mundo numa sinfonia enigmática, porém cortês. Vejo as cores, até na falta das cores. E vejo a vida fluindo entre as ruas, os rios, os precipícios, e nas estradas - de tão perfeitas, rotas. Vejo a ventura e a depressão, ambas nas lágrimas e nos sorrisos destas pessoas. Vejo os cegos, e vejo os que não querem ver. Vejo os
surdos, e os que não sabem ouvir. Vejo os deficientes, e vejo os covardes. Vejo marionetes de mãos juntas, de olhos fechados. Esquizofrênicos. Vejo a incerteza na certeza destes, e já os basta. Vejo os que dizem querer viver a vida intensamente, mas não sossegam até saber o final da história antes do meio, antes até do começo. Sinto o toque sutil e devastador do sofrimento, trazendo o aprendizado, o amadurecimento, o sorriso sincero. Trazendo identidade. Sinto a água gostosa que vem das fontes de liberdade, aguando os campos para que nunca deixe de lá florescer. Sinto as sensações, e já me basta. Vejo a paixão no olhar do desconhecido, e vejo também as flores de plástico, que enfeitam minha sala de estar, mas sem exalar perfume algum. De beleza evidente, e sentimento leviano, porém, suficiente. Vejo e sinto. Novas faces, novos gostos, novos perfumes. Vejo mais que sinto, pois uma parte ainda permanece dormente, mas os olhos atentos vivem, até nas noites de sono. Vejo o sol brilhar mais intenso a cada dia. Ouço os pássaros que anunciam não haver nada como um dia após o outro. Ouço o noticiário, o rádio, a TV. Ouço mais que a mim mesmo, e já me basta. Vejo a inocência na criança, e somente nesta, virtude encontro. Vejo espelhos miúdos refletirem um mundo inteiro. Vejo os pais serem semáforos, uns cheios de nervura, outros de tolerância. Vejo as batidas, e vejo os culpados. Vejo também o trovador e sua inspiração inconscientemente cônscia. Vejo o romantismo, a mágoa, a esperança, a descrença, o drama, as utopias. Vejo as personagens deste enredo desperdiçando a vida e temendo o incerto, e não me assemelho. Não me assemelho. Vejo as nuvens em forma de novidade. Vejo a rotina, vejo os carros correndo, vejo a morte, vejo tudo ao ver que ainda não vi quase nada. Vejo além do que se crê, além do que se toca, além do que se vê, e já me basta.
(Dimas Gomes)
Sinto o vento embalar meus fios de cabelo e ouço os sons do mundo numa sinfonia enigmática, porém cortês. Vejo as cores, até na falta das cores. E vejo a vida fluindo entre as ruas, os rios, os precipícios, e nas estradas - de tão perfeitas, rotas. Vejo a ventura e a depressão, ambas nas lágrimas e nos sorrisos destas pessoas. Vejo os cegos, e vejo os que não querem ver. Vejo os

(Dimas Gomes)
3 Comments:
Show de lúcidez.
Por isso mesmo, de uma consciência dolorida. Mas leve.
=**
Eu vejo fama,dinheiro e sucesso com esses textos \o/
Perfeitos,perfeitos!
Beijoo Djimas
A melhor definição para ti é poeta...parabéns pelo texto, e pelo que já soube isso não precisa de nenhum esforço pra ser escrito..Isso é um dom..
Parabéns..
P.s: Adorei: "..Ouço os passáros que anunciam não haver nada como um dia após o outro"..
Post a Comment
<< Home