Wednesday, May 14, 2008

O Que Fala O Silêncio

Que eu não renuncie, mesmo que o pior se anuncie e o medo subestime a realidade. Que eu não jogue fora a paz que a incerteza, contraditoriamente, me cedeu.

Que eu não deixe de sorrir, mesmo quando vir ressurgir a depressão do mundo, me distraindo, na tentativa de me reconquistar. Que eu a logre, uma e outra vez.

Que eu não contrafaça os erros e que controle meus anseios. Que eu não deixe de cair, mas que aprenda a me reerguer com cuidado e rapidez.

Que eu não desmereça os ao meu redor, uma vez que, quando estive só, conheci alguém merecedor de minha maior valorização.

Que eu compreenda que certas coisas só entendemos e provamos em nossos últimos minutos de vida. Que eu as compreenda nos meus últimos minutos de vida.

Que eu sempre espere o que virá a me complementar, não o que virá a me completar por inteiro, como se eu abrigasse dentro de mim somente vazio. E que eu não perca meu vazio, pois já diziam: perder o vazio é empobrecer.

Que eu creia no amor como uma constância de insanidade ponderada e eterna enquanto durar. Que não tente descrever, só viver, e possa reconhecer quando não mais durar.

Que eu não acorde sorrindo, mas que eu sorria antes de dormir. Que eu, às vezes, chore antes de dormir para acordar sorrindo.

Que eu ouça quando o silêncio vier me confessar, desabafar, suas tristezas e alegrias, suas loucuras e manias. Que eu entenda tal linguagem.

Que eu não ouse desafiar a obviedade, as aparências, as precipitações. Que eu não me deixe ser iludido pela essência borrifada nas flores de plástico.

Que a beleza das cores obscuras possa ser aproveitada nas pinturas rabiscadas à pele crua de quem vos fala, e nunca estrague qualquer obra de arte ainda inexistente.

Que eu saiba diferenciar os erros do mundo dos erros que cometo. Que eu não prometa o que não possa cumprir, e que eu não desperdice tal materialização de sentimento.

Que eu aproveite de cada história, trágicas ou felizes, cada pedaço de aprendizado, cada partícula de sabedoria, cada lição da qual possa ser extraída.

Que eu não, nunca, me perca, somente se para me encontrar um pouco mais. Que eu não tente me achar nos livros mais vulgares, mas nos que mais dizem com poucas palavras.

Que aqueles a quem amo possam sentir-se amados sem ao menos uma palavra de minha boca, um olhar revelador de meus olhos, e que sejam felizes. Eis o egoísmo camuflado e despercebido, e que preza, uma outra vez, por um sorriso meu mais sincero.

(Dimas Gomes)

1 Comments:

Blogger Loredana said...

Meu amigo,que texto é esse?
Ah,se eu soubesse antes que tu escreve!

Extraordináriamente belo.

6:07 PM  

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